Raízes de ManusKritur: a língua eʋe

13 de novembro de 2021

By KeMa

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O idioma com o qual tudo começou

O eʋe é pode parecer um intruso nos idiomas de ManusKritur, mas é o idioma com o qual tudo começou, as ficções também. De fato é o idioma que dá sentido à ideia e ao projeto de Manuskritur em sua globalidade.

O eʋe se situa na raiz da primeira língua que aprendi. Digo que se situa na raiz porque, hoje em dia, já não existe uma língua eʋe originaria “pura”. Existem, isso sim, sim variantes do eʋe: cada espaço, comunidade, instituição onde o eʋe é falado, escrito ou colocado em ação criativa aparenta características próprias. O watchi é uma das variantes do eʋe (de novo: o próprio nome do idioma tem várias ortografias).

Também, segundo nossas pesquisas e experiências, na escrita do eʋe não há hoje em dia uma única regra que faça autoridade. Já o próprio nome do idioma tem várias ortografias: pode ser escrito ewe, éwé, éoué, ou eʋe.

O eʋe é falado principalmente em três países da África ocidental: no Togo, e em algumas áreas do Benin e do Gana. Aqui o foco será no eʋe e suas variantes faladas no Togo.

Para situá-lo linguisticamente, o eʋe pertence à família dos idiomas nigero-congoleses e, mais precisamente, ao grupo Kwa. Outros idiomas dessa mesma família são o yoruba, o igbo, o twi, o anyi, o baoulé, o basaa, o krou e o ijo.

Um pouco de história do eʋe

A primeira atestação escrita da língua eʋe data de 1660, segundo alguns pesquisadores. Mas, pelo que parece, é só a partir do século dezenove que temos uma produção mais centrada nessa língua, por parte de missionários alemães principalmente.

Mais tarde, com a Conferência de Berlim (1884-1885) o então território do Togo caiu sob ocupação alemã. Essa ocupação durou até os tratados (1918-19) que puseram fim à Primeira Guerra mundial. Para os fins de sua colonização, os Alemães promoveram pesquisas e buscaram dar uma formalização estândar à língua eʋe. Isso deu lugar a um alfabeto que podemos chamar de oficial.

Depois da alemã, seguiram as administrações coloniais da Inglaterra e da França. A independência do Togo acontece em 1960.

Sobre como traduzir o eʋe em português, francês e afins

O eʋe é uma língua na qual tem abundam os homônimos e as onomatopeias; também, sua ortografia é particularmente fonética. Nessas características encontramos uma parte consistente do desafio que é “comunicar” o eʋe em um idioma de raiz latina como o português ou o francês.

Também, são características nas quais encontramos legitimidade para fazer que pretendemos apresentar aqui: traduções múltiplas de um único texto.

O primeiro texto que aqui apresentaremos é um poema da coletânea ADETOTRO do escritor togolês Ali-Tagba Tétérého. O livro tem a aparência de um diário em versos: nele encontramos poemas escritos no arco de sete anos. Na página inicial de cada poema, o autor indicou do mês, do lugar, da data e do horário no qual o poema foi escrito.

Uma coisa que aprendemos sobre a forma de abordar o processo de tradução de um texto eʋe? A modalidade de leitura: é preciso, preciso mesmo, ler o texto EM VOZ ALTA. Os textos em ewe, especialmente para quem está se aproximando a eles pela primeira vez, necessitam ser declamados.

A razão é simples. Visto que a língua é particularmente homonímica, é o corpo sonoro daquilo que está sendo dito ganha um papel fundamental! De fato é esse corpo sonoro a nos sugerir a escolha de significado, a accepção mais sensata para um termo ou uma expressão.

Traduções vindouras: poemas do livro-diário ADETOTRO

É por essa mesma razão, além de querermos dar a ouvir concretamente a quem acompanha ManusKritur como é o eʋe, que integraremos, na medida do possível, áudios dos textos que iremos apresentando.

Mas antes de publicar aqui nossas traduções de poemas do livro-diário ADETOTRO, estimamos proveitoso para o leitor uma coisa. Leia o prefácio, assinado pelo professor de eʋe Togbui Agokoli IV.

Portanto, não hesite, cara leitora, caro leitor lusófona/o e/ou eʋéfona/o, se tiver vontade de dialogar a respeito das propostas que aqui colocaremos.

BIBLIOGRAFIA

KPODZO, Yawo Cyprien, Jalons pour une programmation de la langue eve, Lomé, Éditions HAHO, 2012.

TETEREHO, Ali-Tagba, ADETOTRO – Hakpanyagbale, Lomé, Éditions HAHO, 2019.

RONGIER, Jacques, Dictionnaire français-éwé, Paris, Karthala, 1995.

RONGIER, Jacques, PARLONS EWE – Langue du Togo, Paris, L’Harmattan, 2004.

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